terça-feira, 1 de abril de 2008

Duas Historinhas de Verdade sobre a Mentira

Ou duas historinhas de mentira sobre a verdade. Ou as duas coisas.

Primeiro de Abril

Eram cinco, talvez seis amigos que, todo sábado, se reuniam para botar os velhos assuntos em dia.
- Juro que é verdade!
- Não pode. – retrucou Miltinho, depois de ter levado um susto com a declaração de João Jorge.
- Pode sim, Miltinho. O João Jorge já dava uns amassos nela naquele tempo. – confirmou o Pedrosa, velho amigo de ambos.
- Mas a Talma nunca me falou de nada. Ela não tinha porque esconder isso de mim.
Foi um momento tenso no bar. O Arnaldo pediu um tira-gosto pro garçom, Pedrosa e Floriano acenderam um cigarro e o João Jorge serviu uma dose para todo mundo. Só Miltinho ficou parando, com olhar longe, meio triste, meio bêbado. Levantou pra ir ao banheiro, se é que um mictório velho, daqueles impessoais onde todo mundo vê todo mundo, podia ser chamado de banheiro. Miltinho ficou entre a fuga para outra cidade, afinal ter um amigo que já pegará sua mulher era motivo de vergonha, ou o suicídio. Pensou em Paris, mas o dinheiro só dava para ir até o Guarujá. Como era albino, ficou mesmo com a segunda opção.
No banheiro, enquanto amarra a cordinha do sanitário no pescoço os amigos comentavam na mesa:
- O Miltinho é o único que não lembra das datas.
- A Talma uma vez me falou que ele esqueceu o aniversário de casamento. Imagine se fosse comigo.
- Pois é! O Miltinho tem sorte e não sabe. É melhor ninguém contar a verdade que hoje é primeiro de abril.
- É melhor assim!

Vingança

- O trabalho? Ah! Faltou tinta na minha impressora. – era a mais nova desculpa de Pedro.
- Sim, Pedro? Agora vai todo mundo ficar sem ponto porque faltou tinta na tua impressora? Por que não enviaste o trabalho pro meu e-mail? – a Marina era a única que acreditava no que Pedro falava. Talvez por Pedro ser o mais bonito e ela, benza Deus. Talvez por ser inocente ao ponto de ser a última virgem da sala. Ou pelas duas coisas. E mesmo assim, quando o assunto era estudo, não aliviava.
- Mas eu mandei pro e-mail de todo mundo. Não chegou?
- Não! – resposta em uníssono dos outros 4 membros do grupo.
- Então é culpa da internet.
- Mas não banda largar na tua casa?
- É, mas choveu muito ontem.
- E daí?
- E daí que os cabos ficaram balançando na chuva. Pode ter atrapalhado.
- Pô, Pedro! Para de inventar desculpa furada. – algum outro membro do grupo deixou claro que não acreditava nele.
- Não é desculpa furada. Desculpa furada é quando alguém diz que o cachorro comeu o trabalhou, quando diz que caiu na vala da rua, quando diz que deu blackout e apagou o computador...
- Desculpas todas que tu já deste.
Para a surpresa de todos Marina tirou da pasta rosa hello-kitty uma maçaroca de papel e distribuiu em 4. Não deu para Pedro (se bem que a vontade era essa, em outros aspectos).
- Eu fiz um trabalho reserva, já esperando que isso fosse acontecer. E o que ficou decidido na última reunião é que se o Pedro vacilasse, ele sairia do grupo. De acordo todo mundo?
- Eu não!
- Mas o teu voto não é válido, Pedro. O resto do grupo de acordo?
- De acordo. – Em uníssono os outros três. Pedro ficou sem os pontos do trabalho e foi para a recuperação precisando de 9. Tirou 3,5. No ano seguinte não pode vestir o uniforme especial dos alunos do 3º ano. O apelido anafórico Pedro Potoqueiro foi altamente divulgado. Toda a fama de “menino mais gato da escola” caiu para “repetente bonitinho”. Marina ainda chegou a ver o trabalho que, apesar de demorado, chegou de véspera no seu e-mail, mas não abriu com o medo de ter resposta automática no e-mail de Pedro. O trabalho continua habitando o endereço virtual de Marina que, por vingança, deixou Pedro na mão. O fora que ele dera na festa de São João ficou marcado para sempre na vida dela. Posteriormente, na vida dele também. Continuam na mesma escola. Ele, bonitinho, mas ordinário. Ela, virgem.

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